ninguém é você, mas nem você é mais você.
acho que todos nós já tivemos alguma amizade que marcou nossa vida de uma forma quase que inexplicável, mas hoje em dia vocês não passam de estranhas.
Sinto sua falta.
Ninguém é você,
mas nem você
é mais você.
Tu mesma não te reconheces mais.
Me perguntaste, outro dia,
sobre ti mesma.
Sabes que te conheço muito bem…
ou conhecia.
Quem tu és agora?
Será que vale a pena amar este coração
de alguém que te faz se perder?
Que te faz desconhecer a si mesma?
Me deixas confusa quando dizes
sentir minha falta também,
e, uma semana depois,
me ignoras completamente.
— Yasmim Lopes ( 6 de março, 2025 )
Em algum momento das nossas vidas vamos achar que alguma amizade é insuperável, mas isso é relativo. Superar em meu ver é aceitar o fim desse ciclo e seguir em frente, aprender a viver sem. Não quer dizer apagar o passado e as memórias, vamos lembrar ainda. — é claro. Mas não podemos voltar no passado e fazer as coisas diferentes ou viver eternamente nesse loop infinito. Conforme vamos vivendo, e muitas vezes temos experiências ruins e desagradáveis, o que nos faz querer voltar a algum momento que nos fez bem. Mas essa memória era o que você foi naquele instante. Você está apenas tentando reviver algo que não pode ser revivido, copiado ou replicado. Mesmo que você pudesse viver aquilo. — nem você é o mesmo, nem o momento será o mesmo. A saudade faz de nós, reféns de uma nostalgia que nos consome, nos deixa paralisados.
Mas antes de aprender isso passei semanas, meses e anos presa em uma nostalgia enorme, desejando voltar ao tempo onde ela ainda era ela. Alguém que se importava comigo, me acolhia e sempre esteve ali.
Você sabe o que foi para mim?
Lembro das tardes que passávamos conversando sobre nossos planos para o futuro juntas. “Se você tem uma melhor amiga, nunca está sozinha!”, você sempre me falava. Você era dois anos mais velha que eu. Mesmo assim, era um pouco mais “pra frente” e muito complicada aos olhos de todos, mas eu nunca te vi assim. Você brilhava como o sol e sempre se erguia de novo e de novo, não importava o que lhe acontecesse. (Isso me acendia também.)
Te via como referência, uma irmã mais velha em quem eu podia confiar para tudo. Você me encantava, e eu gostava de desvendar cada traço e mania tua. Prestava atenção nos detalhes, e amava em você tudo aquilo que odiava em si mesma.
Os olhos grandes, arredondados. As covinhas profundas que se formavam com teu sorriso lindo. A forma como amava a cor verde. O jeito empolgado com que falava sobre Harry Potter e como queria que fôssemos juntas ao parque temático. A linda forma como escrevia bem demais. E os teus lindos sonhos.
Ainda me lembro de muita coisa, mas tenho me esquecido de outras também. As memórias vivem dentro de nós, mas os detalhes, vão se apagando.
Você me salvou e me manteve de pé por muito tempo. Me mostrou que família nem sempre é sangue do nosso sangue. Família é o que o amor e as conexões verdadeiras nos fazem criar.
Você era meu sol, mas se perdeu nas ruas, nos vícios e na adrenalina daquela vida na qual dizíamos nunca entrar. Deixou de lado tudo o que acreditava e planejava por pessoas temporárias e por atos que te davam prazer momentâneo. Como forma desesperada de esquecer teus problemas, você foi se aprofundando em um mundo completamente diferente daquele que planejávamos. Eu tentava te puxar para fora, te alertar, te aconselhar, mas não tinha retorno. — Doeu muito.
Fui embora me sentindo uma péssima amiga, fraca por não conseguir te ajudar. Mas aquilo já não era mais sobre mim. Era sobre você e a sua luta.
Pensava em você quase todos os dias. Adoeci, chorei sentindo sua falta. Lutei muito por ti, mas você já não me escutava mais. A ânsia por escapar dos problemas gritava mais alto do que os meus apelos.
Depois de anos, há alguns meses, conversamos. Você me pediu desculpas, disse que sentia minha falta, que me queria por perto. Mesmo tentando te tirar da cabeça, algo em mim se agitou. Criei expectativas e mais uma vez, foram quebradas por você. Você sumiu de novo.
Com a sua ausência, criei a ideia de que nenhuma amizade seria como a sua. E, de fato, nenhuma era mesmo. Foi aí que percebi, eu estava tentando replicar alguém que já não existia mais.
E por mais que uma versão minha tenha te amado, e as feridas da saudade de ti ainda tentem se abrir e me fazer sangrar. Eu preciso me curar. O tempo nunca pergunta se estamos prontos, ele leva pessoas e o que fica são as memórias e algumas feridas.